BAR LIFE STYLE

Petiscos criativos e competições folclóricas: O mundo a parte dos bares de Belo Horizonte

Texto: Gabriel Silvestre

Se você alguma vez já teve a oportunidade de tomar uma cerveja com um mineiro, é muito provável que ele tenha te revelado duas estatísticas extra-oficiais: 1. Belo Horizonte é a cidade do Brasil com o maior número de bares per capita. 2. Minas Gerais é o estado que mais consome litros de cerveja anualmente – em volume mesmo, não por pessoa!

Se depender de meu amigo Vinícius, pode até ser verdade. Boêmio e bom de copo, ele me contou orgulhoso estes e outros fatos em meio a diversas rodadas de pint. Isso, aliás, revela bem outro traço característico de quem vem de sua terra natal: o dom de contar histórias. Mineiros adoram contar causos, e se forem sobre bebida então, a conversa vai longe. Impaciente com a minha relutância em aceitar suas histórias, ele me lançou o convite: “Rapaz, se você me visitar em BH vou mostrar o que é uma cidade onde ir ao bar é um estilo de vida!”. Então tá, coloquei uns Engov na mala e paguei pra ver.

mercadorama | Quem estica as pernas por Belo Horizonte logo percebe que é uma grande metrópole, a terceira maior do país por sinal com cinco milhões de habitantes. Como todo grande centro urbano, o panorama da cidade é permeado por grandes edifícios e um mundaréu de carros e gente, uma transformação e tanto da antiga fazenda de café que ficava no local há meros 110 anos atrás. Mas isso significa também diversas opções de lazer, a começar pelo centro, com elegantes praças como a Liberdade, onde funciona o centro cultural Palácio das Artes, ou o respiro verde das palmeiras do Parque Municipal. No entanto, nada se compara a uma visita ao Mercado Central. O lugar é um verdadeiro supermercado das excentricidades mineiras.

Na melhor tradição dos grande mercados cobertos europeus, o local abriga centenas de estabelecimentos que vendem de tudo, literalmente. São toneladas de produtos típicos pelos quais Minas é famosa como queijos, doces, café e cachaça; assim como acessórios, roupas, artigos de candomblé, animais de estimação, animais vivos para refeição, enfim vale tudo, até uma emissora de rádio que opera de dentro do mercado. Tinha marcado de encontrar meu anfitrião em um dos bares locais, mas tinha de ter cuidado e seguir seu conselho: ‘evite olhar nos olhos dos garçons’. Quem passa desavisado é alvo fácil, e só cruzar olhares com eles que logo vem um em sua direção com uma garrafa de cerveja em punho, ‘Essa é pra você!’. Daí fica impossível resistir. Nunca fui tão cauteloso com o contato olho a olho desde minhas aventuras por Amsterdã.

Encontrei Vinícius no balcão de um boteco já me esperando com uma gelada e um petisco de aspecto duvidoso. “Você tem de provar isso, é Figado com Jiló”, tentava me encorajar o dito amigo. “Eu sei, pode não soar exatamente apetitoso, mas não se pode vir aqui sem comer um. É uma verdadeira instituição local!”. Ok, então melhor trazer outra gelada.
 

oceano dourado | O mapa mostra que o litoral mais próximo de BH fica a 400 quilômetros, mas isso não quer dizer que mineiros engolem a seco a provocação de seus vizinhos do Rio e São Paulo. Como bem manda uma máxima local “Não tem mar, vai pro bar!”.

No cair da tarde partimos rumo ao Bar do Véio, o lendário boteco da região Caiçara, onde um pessoal já nos aguardava. À primeira vista o lugar parece não ser muito diferente dos demais, clima informal, cadeirinhas de plástico na calçada, todo mundo falando alto, mas a justificativa da visita está estampada em uma placa logo na entrada: ‘Grande Campeão Comida di Buteco 2007’. O evento Comida di Buteco começou em 2000 como uma forma de celebrar a cultura de boteco e logo caiu no gosto popular, levando moradores a descobrir e freqüentar bares além de sua vizinhança, assim como dar maior visibilidade a estas micro-empresas.

A competição acontece ao longo de 30 dias quando freqüentadores e jurados visitam os botecos participantes e dão nota às categorias ‘cerveja gelada’, ‘atendimento’, ‘higiene’ e ‘tira-gosto’. O último quesito é o carro chefe do concurso, e cada bar que entra na competição seleciona um prato de seu cardápio. Percebi que a cada porção que aterrisava em nossa mesa, um efeito mágico acontecia, o da multiplicação das garrafas. Desconfiei que estava no caminho certo para desvendar
o segredo de tanta disposição.

Botecos são o início perfeito para qualquer balada. Convenhamos, é difícil marcar onde sair com os amigos com antecedência e esperar que todos apareçam. É muito mais prático combinar de se encontrar em uma descontraída mesa de bar, preparar o estômago com petiscos e só então discutir para onde sair. Existem aqueles que nunca chegam a um acordo e ficam no boteco mesmo, mas quem parte para a noite belorizontina invar segue em direção a Savassi e Funcionários. Os bairros concentram bares mais sofisticados e baladas concorridas, como o recém inaugurado Roxy Club, uma casa de música eletrônica que chama a atenção pelo design futurista, ou A Obra, onde rola rock e banda ao vivo. Mas se nada disso for sua praia, sempre vai existir um boteco na esquina mais próxima.

Outra saída criativa que mostra como mineiros sabem usar prazeres mundanos como uma boa desculpa para celebração é o Contorna. Pode-se dizer que o evento é a versão brasileira do infame Circle Line Pub Crawl londrino. Ao invés de uma pint em cada estação da Circle Line, o que rola por aqui é um boteco crawl, uma caminhada pelos quase 15 quilômetros da Av. do Contorno, a avenida que circunda todo o centro da cidade, com paradas obrigatórias nos bares do percurso. A largada tem início pela manhã e só termina Deus sabe quando – dizem os mais otimistas que tem gente que finaliza já na madrugada do dia seguinte.

Se hoje fosse o dia do evento, os sobreviventes do Contorna provavelmente se uniriam a nós para um último ritual, já no raiar do dia, no Bar do Bolão. O bar da Praça Duque de Caxias recebe de braços abertos os famintos das noitadas de BH em busca de um santo remédio para curar a ressaca, como o famoso Rochedão do Bolão. O PF (prato feito) consiste em spaghetti, arroz, feijão, ovo, fritas e mais uma carne à escolha da freguesia. Vencer o prato é o meu último desafio depois de um dia intenso, mas como bem aprendi por aqui, todo exagero é pouco. JD

 

 

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